quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O Familiar Senso do Desconhecido...



Era lugar amplo de altíssimas paredes.
Galpões com lajes espessas, salões com telhas galvanizadas, ou de amianto; algumas ainda inteiras.
Tubulações gigantescas expostas cortam paredes por centenas de metros.
Clima estranho, quase pós-guerra, meio ‘cinema catástrofe’.
Não... talvez apenas tenha resistindo a violento incêndio e saques contínuos.

Embora minhas divagações não ficassem por aí, tenho certeza apenas de uma coisa... Não faço sequer a mínima idéia de como cheguei aqui; e é claro, reverbera uma pergunta na minha cabeça: “O que estou fazendo aqui?”


Continuo caminhando com meus devaneios, ou dúvidas, mas a curiosidade me impede de ficar parado. Quase que por instinto vasculho pátios, antes-salas, mais e mais salões. Exploro com cuidado, pois tenho sensação de não estar completamente só. Não me parece aquela impressão de estar sendo seguido, mas sim de estar sendo observado.

O cheiro é forte demais, lembra amônia misturada a algum cheiro ocre... mas num certo salão o cheiro mais parece com o habitual odor das queimadas. Tudo se explica quando noto as manchas negras em formato de tiras nas paredes altas anteriormente tingidas de branco. O rastro destruidor do fogo!

Nalgum momento noto sons conhecidos, burburinhos, passos, ruídos de manejo de objetos e utensílios. Mais uma vez minha curiosidade me leva a seguir... porém desta vez sigo pra buscar os sons. Mas é pela primeira vez que o medo também me acompanha.

Se não sei onde estou, deveria também desconfiar de quem estaria lá? E porque estariam lá? Essa é minha neura, minha incerteza. Mas o mesmo pensamento cai quando penso; ‘Se não sou hostil, porque eles seriam?’
Nada faz sentido. Muito menos meus pensamentos, meus nexos!

Comecei a vê-los aos poucos. Eram rostos desconhecidos estranhamente familiares. Estávamos de longe, como que numa análise em dois atos. Eu curioso, eles me ignoravam. Vestiam-se de forma casual, uns como se estivessem em casa, outros como se fossem trabalhar. Nada muito sofisticado. Aí me pego pensando; ‘Porque estariam produzidos para estar aqui?’ então acho mais que normal as casualidades.

A visão que mais me chama a atenção até então é de uma senhora, com feições distintas e um pouco mais produzida que os outros, sentada numa cadeira plástica cercada por mais dois ou três, simplesmente trajados. Os outros olhavam dissimuladamente: ela, porém me fitava quase que nos olhos mesmo em sua distância.

Então vi salas maiores, e tinham uma espécie de escrita em seus umbrais. Adentrei e só vi as mesmas coisas que antes tinha visto. Destruição, entulho, sujeira e o cheiro ruim fechava tudo com chave de ouro. Fui à sala ao lado por curiosidade, e à outra também... Nesse momento penso: ‘Porque estou singrando sala a sala?’ Nada me parece saída, mas um elo a outra mesmice!

Foi quando percebi certo casal. Ele assentado numa longa mesa, de costas, como que numa refeição comunitária. Ela, acariciando seu ombro, de costas pra mim, de frente para as costas dele.
Estavam estranhamente felizes, como ninguém ali estava.
Notei que a felicidade deles me incomodou. Quase me feriu. Mais uma vez estranhei tudo, mas não duvidei de nada. Era tudo curiosamente real nessa complicada ficção!

Então, como que de súbito, enegreceu-se a cena, o cheiro mudou, senti frio.
Meus olhos cerrados se abriram e notei meu teto, meu edredom, meu quarto. Um sonho?
Era um sonho, mas ainda sentia os cheiros, até poderia ver as cenas ainda. Era como se eu fosse levado até esse lugar e depois trazido de volta.

As perguntas permanecem, só que com contornos diferentes. Agora não é mais ‘onde estou?’, mas sim ‘onde fui?!’ Aquele lugar desconhecido existira? Vou conhecê-lo? Já estive lá?
A sensação de dèjà vù continua durante o dia, como um sabor que não me deixa a boca. Curioso, estranho, e de certa forma, até saudoso.
Mas a sensação que mais me persegue agora é que sei de tudo, e só não estou fazendo as conexões certas.

Wendel Bernardes.


(Texto inédito)

5 comentários:

  1. Oi,Aurélio !
    Ainda ta fazendo as conexões?
    kkk..hum..
    Bjinhu e a paz.

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  2. Menina... minhas sinópses neurais estão emtupidas, na certa!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  3. kkkkkkkkkkkkkk...imagino...

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  4. complicada ficção!....kkkk

    Estás ficando bom nisso...rsrs
    Bom final de semana, fica com DEUS.

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  5. Clélia, por incrível que pareça, essa foi 'inspirada' num sonho...
    Bom final de semana pra vc tb!

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Aqui escreve-se sobre ficção, ou sobre fatos à luz da mente do escritor. Assim sendo, cada um deles pode ser tão real quando uma mente pode determinar.
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