segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O Distante Reino sem Sonhos

Há muito tempo atrás num reino perdido e distante nasceu uma criança. Poderia ser um momento de júbilo para seus pais, ou quem sabe a alegria de sua parentela. Porém era um bebê não planejado, num reino onde tudo deveria seguir duríssimas regras de condita de vida.
Nasceu e criou-se em meio ao desdém, quase sem atenção alguma senão aquela mínima e indispensável a cada criança para sobreviver.

Apenas quando maior é que a criança pôde ver o mundo com seus próprios olhos. Antes, trancafiada como que numa quarentena eterna, apenas via o sol, a lua e algumas estrelas rebeldes que cismavam em parecer naquele estranho retângulo na parede que as pessoas chamavam; janela.

Mas quando viu as plantas, sentiu o cheiro da relva... quando vira o riacho e ouvira seu som contínuo e belo... quando tocou a areia o notou sua textura é que percebera o quanto lhe fora roubado, o quanto perdera. A vida era maior, mais profunda e larga numa escala jamais sequer concebida pela criança.

A tristeza poderia ter se apoderado dela, mas havia em seu íntimo um estranho dom... Tinha dentro de si, emaranhado em seu âmago o talento da fé. Cria fortemente que tudo que vivera até então possuía um estranho propósito. Cada dia obscuro, cada noite em claro poderia um dia tornar-se liberdade.

Além desse estranho dom, possuía também a criança um curioso poder; o de sonhar.
Agora que conhecera a relva macia, que sentira o cheiro das águas, que vivera instantes com os elementos, projetava em seu pequeno coração realidades inteiras.

Suas projeções mentais lhe permitiam não só produzir o que vira nos instantes de liberdade, mas criar verdadeiros universos paralelos onde ela era o centro, onde era o poder pra realizar seus próprios sonhos... ou planos!

Certo dia alguém mal intencionado olhou mais de perto a criança e notou curiosamente em seu quarto que as paredes, antes pintadas num tom sem graça qualquer, agora cintilava vida. Eram ramos, flores, raios de sol!
Como poderia fazer surgir tudo aquilo? Não se poderia permitir! A própria existência do pequeno ser afrontava as duras leis do reino perdido.
Além de desobedecer a todos ingenuamente, a poderosa mente da criança usou da ‘bruxaria de sonhar’... projetando ao seu redor felicidade, liberdade.

Mesmo criança deveria pagar! Trancafiaram-na num fosso, ou numa torre... Sabe-se lá qual calabouço! Esqueceram-na a ponto de nem sequer olhar pela fresta no momento de alimentá-la. Qualquer gesto era proibido!

Meses e anos se passaram até que mesmo num reino que está fadado a ranhura da dor, a vida trouxe esperança na figura de um novo rei que surgiu, nascido em meio a sentimentos tão conhecido, tão doloridos. E curioso fitou o calabouço escondido enquanto observava suas posses. Sem saber do ‘mal’ ali escondido fora ele mesmo conferir, com a curiosidade peculiar dos jovens, qual o motivo de tamanho esquecimento, tamanha dor.

Os ferrolhos quase não o obedeceram quando sua chave fez atravessar a fenda da porta. Ao forçar a pesada madeira viu inacreditavelmente uma porta para outro mundo, ou outra dimensão. Eram cores e calor, brilhos e texturas incríveis, jamais sonhados nem pelas mentes mais férteis (se é que isso existe nesse reino).

O que seria aquilo, magia negra? Bruxaria perdida? Ciência desconhecida? O medo tomou conta do jovem monarca, porém depois de alguns instantes de receio, deliberou em aventurar-se no mundo da criança.

Criança? Sim, ainda era uma criança mesmo depois de anos e anos... Com um coração intocado, envolta em fé e sonhos!  Engendrando planos e criando um universo perfeito onde nem paredes de pedra moldada, nem ferrolho ou escuridão poderiam trancafiar!

Os momentos tornaram-se dias onde o monarca perdido em conhecimento decidiu abolir as duras leis do reino pedido. Percebera que embora duras, austeras e sisudas, tinham poder algum sobre a mente de seus súditos e o coração sonhador daquela poderosa criança.

A última noticia sobre o reino perdido antes de desaparecer completamente dos escritos antigos é que se encontrava em plena restauração. Novas leis estavam sendo criadas tendo como base a liberdade de cada individuo, onde o sonho é permitido e até cultivados. Onde o maior poder está na fé e no desejo do coração. O novo rei percebeu que a verdadeira autoridade não está contada nas leis e no medo imposto, mas na liberdade de escolher servir a partir da admiração. Tudo isso vem por meio da fé, da liberdade, do sonho. Tudo isso a partir de olhar a vida sob a mente de uma criança.

Wendel Bernardes.

(Texto inédito)

9 comentários:

  1. Que linda mensagem você nos trouxe a partir desse conto, da história desse menino cheio de sonhos e fé e desse novo rei. Gostei muito.

    Abraços e uma bela semana.

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  2. Lindo, Aurélio !!
    Me fez chorar....

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  3. Olá Cida e Ingrid...
    Fico feliz com as visitas de vocês!

    Às vezes precisamos de olhar o mundo duro e vil com a visão simples e 'mágica' que cada criança possui.

    Jesus disse que se não nos fizermos como elas, no sentido de enxergarmos tudo com essa visão, não seríamos dignos do Reino!

    Essa é uma das traduções possíveis para o texto!
    Abraço, meninas!

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  4. Verdade, Aurélio...
    O texto é lindo, rico em detalhes, inteligente e genuíno. Parabens !!!

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  5. Ninguém tem o poder de aprisionar a mente humana...

    Belo texto. (Redundância rsss)

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  6. Pois é Rê,
    assim como cada um de nós, nossas mentes foram construídas livres.

    Muitos acreditam que aprisionar uma mente livre (em cadeias) pode fazê-la acorrentada também...
    Mas, como um sábio disse certa vez: "Uma mente que se abre para uma nova ideia, jamais volta ao seu estado anterior!"

    Nada pode reter a mente humana!
    Beijos, Rê!

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Aqui escreve-se sobre ficção, ou sobre fatos à luz da mente do escritor. Assim sendo, cada um deles pode ser tão real quando uma mente pode determinar.
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