quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A história de Alonso, o incompreendido.




Num mundo tão diversificado, com grandes possibilidades e realidades, encontramos todo tipo de gente. Uma dessas ‘gentes’ é o Alonso.
Sempre se sentiu “o cara”. Era “o cara” no futebol e por isso os moleques da rua nunca o chamavam pra jogar pelada no campinho.
Era “o cara” entre as cocotas, por isso seus amigos sempre saíam sem convidá-lo pros agitos da juventude, afinal se ele fosse, pensava, não sobraria cocota sobre cocota!

Conheceu uma professorinha, moradora da zona rural de uma grande metrópole. Era moça simples, acanhada – tímida mesmo – porém jeitosa e formosinha à vista! Com a lábia que cria possuir, Alonso o garanhão do pedaço, adiantou-se na conquista. E não é que levou mesmo?
Será que conseguiu porque a professorinha era do interior e não conhecer as maldades da cidade, ou Alonso conseguira mesmo uma lábia pra ganhar as meninas de verdade? Ninguém sabe dizer, mas até hoje se perguntam todos.

Ficaram juntos uns oito anos. A professorinha era moça acostumada com vida dura, talvez por isso tenha havido tanta durabilidade na relação com esse cara. Mas vivia num inferno! Alonso era um cara chato. A última palavra sempre tinha que ser a dele, coisa característica de gente que não manda nem em treino de time de futebol de botão!

Nasceram lhes dois belos meninos, puxaram a mãe, é claro! Alonso tinha aquele jeito de neanderthal misturado com cara de tratante de filme dos anos cinquenta, desses 171 que permeavam as cidades grandes daquela época, e dessa também!
A professorinha não poderia aguentar mais tempo que isso, mandou Alonso pro sexto dos infernos, porque os quintos, como se diz, já estava lotado. Ele não queria descuidar, afinal, aquela ‘oferenda mal arriada’ não poderia voltar pra sua porta. Vai de retro!

Acha que isto o fez refletir seus gestos? Claro que não! O negócio é curtir a nova vida de solteiro, oras!
Procurou pela velha galera do futebol e pela turma das baladas com as cocotas e não encontrou ninguém. Bom, na verdade encontrou a todos, mas não estavam mais ‘disponíveis’. Todos estavam fazendo coisas realmente importantes tipo; faculdade,  emprego, casamento, especialização na carreira. Que gente chata!

Decidiu viver sua segunda adolescência com 35 anos, que são, segundo ele, os novos 17,5! Namorou, terminou. Morou junto, separou...  trabalhou, encheu o saco do trampo. Comprou carro tunado, vendeu... Foi pra academia, queria ficar sarado, quem sabe aparentar uns 10, 15 anos a menos, ou tantos quantos anos pudesse sugerir!

Mas cansou da segunda adolescência. Decidiu amadurecer também um pouco tardiamente. E o que mais deixaria alguém com cara de maduro senão uma boa religiãozinha. Não passava nem perto da igreja romana, aquela liturgia lembrava muito da professorinha que era bem carola... Ah, não!

Frequentou religiões afrobrasileiras, mas o ‘santo’ não baixava em sua presença. O pai de santo pediu que tão urucada figura caçasse seu rumo, quem sabe no budismo taoísta, no Jorei Center, ou quem sabe uma igreja crente...

Ele não sabia o que era Jorei e acha essa história de budismo e contemplação coisa pra monge dormir... Então só restava a igreja crente.

Passou na porta da Igreja Mundial Universal das Galáxias do Reino de Zeus e decidiu não ficar muito por lá afinal, se eles quisessem fazer um exorcismo não iria dar certo ao exemplo do que aconteceu no centro espírita.

Foi presbiteriano, mas não conseguiu entender esse tal Calvino. Não foi luterano, pois Lutero era por demais revolucionário!  Na assembléia tinha gente que gritava demais e ele não poderia aceitar alguém que gritasse mais que ele!

Difícil essa vida de chatinho, né?

Então se encontrou quando num bar, foi convidado a dar um pulinho na igreja da esquina... Perguntou pro mocinho que lhe evangelizou; “nessa Escola Dominical desce fogo?” o rapaz pensou que o bebum tava zonado com a cara dele, mas foi gentil, como os crentes tem que ser!

E ele foi.
Na aula, fazia diversos comentários que possuíam sempre uma conotação mais coloridinha da verdade. Queria participar do louvor mesmo sem tocar nenhum instrumento ou cantar. Deve ter imaginado que cantar na igreja era dar uma idéia nas irmãzinhas do coral protestante!
Ele explicou que de tantas vezes que ouvira sua musa inspiradora Ana Carla Faladão, poderia ‘ministrar’ em qualquer lugar.

Não passou no teste, mas ficava lá atrás cantando mais alto que os vocalistas pra mostrar seu vozeirão de Pavarotti semitonado.
Ao final do louvor dava notas; hoje foi 5... repetiram muito o refrão e não gostei daquela versão do hino que cantaram.
Um dia chegou azedo e disse assim pro líder do louvor: “Cara, seu louvor é sofrível!” o rapaz engoliu a seco e passou batido.

Foi assediado por uma solteirona, duas viúvas, e um seminarista meio estranho. Rejeitou a todos, ninguém estava no seu altíssimo padrão de mulher (e de homem).

Cansou daquilo também, decidiu seguir seu caminho sozinho, ninguém poderia lhe entender mesmo!
Sua ex, seus filhos, seus amigos, patrões, irmãos na fé... Nem Jesus! Ninguém poderia vislumbrá-lo direito. Era muito complexo, um universo inteiro num corpinho de quase quarenta com cara de trinta e nove e meio...

Quer saber? Antes só que mal acompanhado, disse isso enquanto passou no shopping pra compara umas roupinhas estilo meio colorè...
Renovou seu guarda roupas, seu estoque de chiclete tridents, comprou umas calças laranja fluorescentes dois números abaixo e foi viver sua “terceira segunda infância” pois os 40 são os novos 18!

Vai arrasa, ném!
Wendel Bernardes.

(Postado originalmente no Café com Leite Crente)


5 comentários:

  1. ESSE! nunca vai se cansar de quebrar a cara.
    rsrsrsrs.
    Muito bom.
    Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  2. Pois é Clélia...
    Tem gente que não aprende NUNCA... Faz parte do homem, né?

    ResponderExcluir
  3. Seria cômico se não fosse triste...kkk
    Conheço gente assim, acredita ?

    ResponderExcluir
  4. Eu também.... Essa foi inspirada em fatos!
    (Pronto, falei...kkkk)

    ResponderExcluir

Aqui escreve-se sobre ficção, ou sobre fatos à luz da mente do escritor. Assim sendo, cada um deles pode ser tão real quando uma mente pode determinar.
Seus comentários serão bem vindos se não forem ofensivos.