sexta-feira, 7 de junho de 2013

Eles Estão Entre Nós... Liel.




A guerra é vivida num nível cada vez mais intenso. Baixas de ambos os lados, enfraquece a batalha. Cada guerreiro cônscio de seu dever fará de tudo pela causa.

Nova Iorque – Dezembro de 2024.

O clima é cada vez mais louco. Deveria ser inverno na América do Norte, mas o calor se intensifica. Em menos de dez anos, especialistas dizem que se terá aqui um ‘natal tropical’.
O mundo mudou muito nessa última década. Embora os governos mundiais detenham ainda certo poder, perderam completamente a soberania e o domínio ficou por conta de uma mega-instituição religiosa chamada “O Culto” que nada mais é do que um conglomerado de várias segmentações religiosas unidas em franquias sob uma mesma bandeira; o poder
Há ainda alguma resistência no oriente. O mundo árabe e os hindus lutam bravamente, mas a cada dia as alianças monetárias e os boicotes financeiros enfraquecem até mesmo aos extremistas mais radicais. A ONU perdeu sua força até ser apenas uma lembrança insignificante num mundo globalizado ao extremo.

Fala-se uma mesma linguagem no meio corporativo e cada pessoa é agora, literalmente, cidadã do planeta e o centro nevrálgico de tudo só poderia ser mesmo a Velha Maçã. Nova Iorque abriga o centro político, cultural e religioso do mundo e não desacelera nem mesmo para que haja veneração da figura central do Culto; O Ungido!
Mistura de homem e mito, esse carismático homem de aproximadamente 45 anos é praticamente unanimidade na Terra! Os homens o invejam, as mulheres o desejam, as lentes são por ele enfeitiçadas, os autores de auto-ajuda o definem como padrão de sucesso e a filosofia contemporânea o encara como o novo messias para um mundo pós-moderno.

Brooklin – 23/12/2024.

As casas de todas as classes sociais, inclusive as classes mais baixas, possuem toda a infra-estrutura que cada ser humano necessita – Karl Marx ficaria orgulhoso – a não ser, quem sabe, se não soubesse que todo esse beneficio veio justamente do que chamara de ‘ópio do povo’; a religião!

Em cada casa há agora uma bandeira da nova fé, e pelo menos uma foto de seu messias. E as pouquíssimas famílias que ainda não as tem, sofrem todo tipo de abuso humanitário.
Têm dificuldade de arrumar comida, passam calor e frio sem energia elétrica e o mais cruel... Falta emprego, serviço de saúde e escola para essa gente.
A resposta para isso? Bem... Os líderes afirmam que os convertidos devem comer o ‘melhor dessa Terra’ enquanto os ímpios já estão ‘destinados ao fogo do inferno’... Talvez essa metáfora defina bem a vida de Carey.

Ele é segregado na rua. Esqueceu-se da última vez que ouvira um ‘bom dia’ ou um ‘olá’. Um sorriso cordial então nem se fala. A ajuda secreta de alguns caridosos vizinhos vem na forma de serviços para ganhar pelo menos comida e alguns trocados de new dollar. Assim sobrevive.
Como é um homem de fé, não perde a esperança na humanidade. Com todos costuma ser gentil, e transparece uma pureza herdada sabe-se lá de onde...
Mas é claro que o perigo sempre está presente. Está numa semana má, não conseguiu trabalho nem ajuda da comunidade. Tudo ficará enlouquecedor em pouco tempo. Ele sabe que isso tem a ver com a incisiva política que os Centurions administram. Eles são uma espécie de policia global e executam suas ordens ao extremo. O cerco sobre ele está se fechando, logo o pior acontecerá!

É antevéspera de Natal, porém ninguém ousa comemorar uma festa ligada a uma das antigas religiões. Carey entra em casa e como sempre, faz suas preces ao seu Deus agora pagão, até que alguém lhe chama na porta.
-Quem é?
-Abra por favor, são os Centurions!
-Claro... Mas está tudo em ordem aqui, oficial.
Assim que abre a porta, cinco fardados sinistros adentram sua propriedade já agindo com truculência.
-“Em ordem”, infiel? Sua vida está fora do eixo!
-Me desculpe, senhor... Mas foi assim que decidi viver.
-Logo se vê que foi a decisão errada, meu caro. Você não passa de um farrapo humano! Mendiga trabalho e comida, e tudo isso por conta apenas de uma filosofia de vida...
-Devo discordar senhor... Tudo isso por conta de uma fé livre!
Todos gargalharam ruidosamente, menos obviamente Carey, que já imaginava o que haveria de vir após isso.
-Não viemos aqui para nos divertir com você infiel, queremos apenas lhe participar da novidade.
-Qual?
-Esta casa foi confiscada pela administração pública.
-Mas minha casa é particular, senhor. Até onde sei está quitada, pois se trata de uma herança... em qual acusação se enquadra sua...?
Antes de terminar sua linha de raciocínio o Centurion conclui:
-Eu poderia lhe enumerar muitas acusações contra você, dentre elas perturbação da ordem, falta de zelo com patrimônio tombado, dente outras...
Embora esse... ‘casabre’ esteja ‘regular’ como você ousadamente frisou, está assentado em terreno governamental, ou seja; pertence à Ordem!
Poupe-me o trabalho, infiel... ponha-se na rua!
-Não precisa prosseguir, seus convites serão descartados, senhor.
-Ora, porque meu caro? Quanta falta de consideração com quem ‘tolerou’ sua presença aqui até hoje.
-Consideração? Bom... já sei o que virá depois...
-Você tem algumas horas para sair e para lhe ‘ajudar’ vamos lhe poupar o trabalho com suas tralhas!
Dito isso, quatro dos Centurions começam a quebrar o que lhe sobrara de mobília. Carey está estático, não poderia mesmo ter outra reação, afinal qualquer ação contra a polícia desse novo mundo gerava sansões muito severas, até mesmo a morte em alguns casos.

Ao final de tudo, apenas as paredes estavam no lugar e a mobília do rapaz igual ao seu coração; em pedaços. Insatisfeitos os cinco lhe cercam portando armas elétricas e bastões de nocaute. Carey sabia a motivação real dos cinco. As horas que lhe prometeram para evacuação nunca seriam cumpridas.
Os golpes começam covardemente pelas pernas, querem vê-lo implorar de joelhos por sua vida.
Seguem-se sucessões de maus tratos que deixariam horrorizados os mais insensíveis dos homens.
Carey portava agora lesões diversas, edemas, hematomas, contusões e provavelmente algumas fraturas também.
Um deles agarra-o pelo pescoço, tirando-o do chão com força inumana. Espantado e dolorido, o jovem fita seu agressor e aguarda sua sentença de morte como cordeiro diante da matança. Qual não é sua surpresa quando nota o rosto de seu algoz transfigurar nalgo terrível e inimaginável pela mente simples do rapaz.
Pele esverdeada, olhos grandes e vermelhos, dentes semi-serrados. Seu espanto é ainda maior quando ouve a voz sinistra que lhe diz:
-Peça a morte, caminhante!
Ele luta para falar, afinal sua respiração está por um fio. Porém, embora seu corpo flagelado esteja mesmo fraco, sua vontade é férrea...
-Jamais – e concluiu;
Senhor, dá-me o destino que me julgares melhor, dito isso, desfaleceu sem ar.

Achando que o mataram, os demônios ignorantes mais uma vez gargalham continuamente, porém essa alegria parece passageira. Uma figura sisuda e corpulenta opõe-se entre os monstros e a saída.
-Um anjo? Quanto tempo não via um desses... Dizendo isso o chefe do bando puxa uma risada nervosa que não é seguida pelos demais. Todos sabem que um desses, embora raro, significaria problemas na certa.
-Veio levar o corpo do caminhante?
-Não seja tolo - disse outro – se está aqui, o mortal ainda vive.
O guerreiro alado abra sua boca e se manifesta:
-Pelo menos não são todos assim tão burros!
A fúria pelo insulto os faz tremer de gana por batalhar e armam-se prontos a luta.  O ser moreno de longos cabelos negros, usa em mãos lança mística, porém antes de singrar em direção a batalha lhes sorri dizendo:
-Não haverá quem sinta saudades de vocês, criaturas...

A luta desleal começa. Cinco grandes demônios contra apenas um anjo. Todos são exímios guerreiros e as cenas de violência têm por palco o casebre de subúrbio em meio aos entulhos dos móveis que os próprios demônios geraram.
Saltos, gritos de dor, sangue, feridas abertas e o primeiro demônio cai. Ele vibra seu bastão firmemente sobre seus ombros fazendo assim o segundo tombar, decepando-lhe a cabeça.
Os três covardes restantes ensaiam uma fuga, mas Liel lhes impede.
-É chagada a hora de vocês, vermes.
O líder deles lança um dos corpos dos comparsas mortos na luta em direção ao anjo visando ganhar tempo para a fuga. Liel desvencilha-se facilmente do engodo, saltando em direção a seu oponente agarrando-lhe pelo pescoço e lhe atravessa o abdômen com sua arma. Usando velocidade ímpar, estende suas asas atingindo outro fugitivo, ao derrubar-lhe, não perde tempo e lhe pisa a cabeça furiosamente.  Os atos de guerra desse anjo beiram a barbárie e não poderia ser diferente, já que seus inimigos lhe superavam em número e força.

O último, já quase em liberdade, chega a ver a luz da rua onde por instantes mantém a grata sensação da impunidade.
Nesse instante é agarrado pela farda e arrastado de volta pra dentro.
-Dê um recado ao seu meste-direto. Diga-lhe que as coisas estão mudando por aqui, e que seu até então bem sucedido levante de horror termina hoje!
-N-no-nós somos muitos - gagueja o demônio - sua guerra é inútil - revela o centurion.
-Quando foi que isso importou?
Terminado sua linha de raciocínio, o guerreiro místico devolve o demônio às ruas, onde certamente levará a noticia da derrota e o recado ao seu mestre. Obviamente seu destino será pior do que apenas morrer em suas mãos. Pensando assim, se vira e sorri ironicamente.

De volta ao interior da casa, junta os corpos podres banhados nesse sangue laranja e gosmento e só aí, saca sua espada que flameja assim que entra em contato com o ar.
Ele queima os corpos num fogo dourado e sobrenatural, que estranhamente apenas consome os corpos dos seres malignos, deixando intacta a casa já em desolação. Cada demônio é transformado em cinzas, logo depois bate forte duas vezes suas asas e as leva para longe, como se nunca estivessem no local.

Nesse momento Carey começa a acordar mas, surpreendentemente dá de cara com jovem de feições étnicas que lhe diz...
-Fique tranqüilo, eu vim ajudar.
-Quem...?
-Descanse, eles se foram, sou apenas um amigo.
Carey desmaia mais uma vez por conta dos ferimentos e da dor, mas agora está em bóias mãos.
O guerreiro, em sua forma de arauto, leva-o a uma reserva onde outros caminhantes na mesma situação de Carey são cuidados, se escondem e se curam.
Na reserva, discute-se os rumos do levante que planejam para trazer de volta a liberdade. Sabem que muito há de ser feito, mas o tempo de se esconder e correr está terminando
É tempo de guerra!!!!

Se você tivesse seus ouvidos adestrados, poderia agora mesmo ouvir o som dos tambores de guerra. Estão mais frenéticos do que nunca. Seu som é ouvido a quilômetros e seu reverberar agora faz a espinha de seus oponentes gelar de medo. Não há mais ordem para se esconder, a batalha se revelará... Em breve!

Wendel Bernardes.





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