Um braço ergue-se empunhando aço nu. Ouve-se logo em seguida
um brado que amedronta a alma dos mais bravos. Certamente esse grito de guerra
não é em vão... Na
verdade, nunca foi!
JERUSALÉM – SÉC. I A.C.
As ruas empoeiradas e escuras da “Cidade Santa” guardam
segredos inacreditáveis. Aaliyah tenta voltar para casa, juntos dos seus,
mas sente que está sendo seguida. Ela possui apenas dezessete anos e nunca
deveria sair de casa desacompanhada, isso é uma desonra para uma moça de família,
principalmente a essa hora da noite, porém isso se fez necessário. Aaliyah tem
que sair a essa hora para buscar um pouco de comida na casa de seu tio Baruch.
A fome, ainda mais negra que a noite, a impulsiona a
prosseguir. Ela está só pelos mesmos motivos que caminha a essas horas. Medo e
morte.
Seu pai fora morto, pois se desconfiava que ele fizesse
parte da nova seita dos Caminhantes. Bárbara e completamente brutal, a vida fez
com que essa pequena flor do deserto se tornasse uma mulher em pouquíssimo tempo.
A comida é para partilhar com sua mãe
Adina, às portas da morte.
A jovem tem medo de perecer pela peste que assola sua mãe. Tem
medo de morrer ao fio da espada dalgum centurião subornado por algum dos
herdeiros culturais e religiosos dum tal Caifás, que no passado recente, fora responsável
pela morte de certo profeta.
E seu medo não cessa...
Teme ainda morrer de fome, teme ser pega por algum vilão bêbado
sorrateiro...
Porém, e pequena mal imagina que seus medos deveriam
potencializar-se. Ah, se ela soubesse...
Ela apressa o passo como que percebendo alguma atrocidade
latente. Dobra esquinas e esgueira-se apenas com pedaço de pão, um tanto de
azeite e duas tâmaras.
“Oh, Deus... Ajude-me!”
Alheia à sua prece, criatura monstruosa e demoníaca decide atacar
apenas com um propósito: saciar sua sede de sangue.
A criatura firma sua força em quatro patas, rosna como fera
louca e corre como sempre. Seus dentes destroçam carne há séculos, porém, quando
a carne em questão se trata de uma jovem e assustada caminhante, tudo se
amalgama a um estranho sentimento: o prazer.
Embora a menina sinta um medo que lhe gele a alma – mesmo sem
saber do quê – jamais poderia arrazoar do que ela foge. Mas a criatura está
cada vez mais perto, cada vez mais próxima de concluir sua sina; saciando sua
sede...
Apenas alguns metros para que Aaliyah chegue ao seu destino.
Apenas alguns metros para que o terror se apodere dela. Respirações ofegantes. Medo
e prazer estão no ar... o demônio salta para seu propósito até que algo lhe
corta as entranhas!
A criatura urra banhada duma gosma alaranjada e fétida. Vira-se
para contemplar o que a atingira e fita figura gigantesca. Corpo de bárbaro, rosto de homem, espada de
guerreiro: e realmente o é!
Trata-se de Kenoah, um guerreiro celestial temido na terra
dos homens, odiado nos baixos e inglórios locais e cantando em seu Reino sobrenatural.
A criatura conhece seu algoz, seus olhos queimam de fúria
cega e na única e desesperada tentativa de vencer, lança-se insanamente contra
seu oponente. Ele aguarda parado como estátua de mármore com seu aço dourado
nas mãos e quando a fera se aproxima ele usa seu próprio peso e impulso para lhe
atravessar o corpo demoníaco. Abraça-lhe firmemente e estende suas asas morenas
dando impulso e saindo assim do alcance de qualquer olho humano.
Aaliyah? Está segura em casa alimentando sua mãe dessa vez. Isso
até que a morte lhe bata a porta em mais uma oportunidade. Porém, se depender de
seu mais novo guardião pessoal, nada será tão fácil assim.
Longe dali os sons de guerra se intensificam. Outros braços se
erguem, urros demoníacos se fundem aos cânticos de batalha de seres nascidos
para tal.
Onde agirão da próxima vez?
Wendel Bernardes.
Bem, você já sabe o quanto gostei desta narração...
ResponderExcluirSem mais comentários,
Parabéns.
Valeu, Alysson...
Excluir