Ah, se ele pudesse falar...
Se suas portas fossem boca
Contaria o que ao longo desses mais de cem anos já viu...
Falaria da boemia luxuosa com ares de glamour tropical,
Cores múltiplas pintando os Arcos de luz.
Gente tomando chimarrão, café expresso, chope gelado.
Gente falando português, inglês, francês
E falando tudo errado.
Contaria as histórias de Madame Satã,
As tantas idas e vindas do bondinho,
Contaria do tempo em que mendigos, ladrões e malandros
Povoavam suas ruas.
Contaria dos meninos de rua e seus malabares,
Colas de sapateiro, crack e esperança roubada.
Contaria das inúmeras brigas de quem tenta a ‘vida’ na sua
calçada.
Contaria que abrigou famílias, já deu guarida a aves.
Já foi bordel, república, hotel...
Contaria que já frequentou shows diversos, de chorinho a rock 'n' roll,
mas a maioria ficou sem aplaudir.
Que já teve tempos tranquilos e já viveu tempos de recessão!
Contaria que já levou bala perdida,
Que já viu gente morrer aos seus pés.
Contaria que até uma vida viu abrir os olhos pela primeira vez
em seu interior.
Ah, se ele pudesse falar...
Daria sua opinião, longe dos flashes, das luzes, das
lentes...
Longe da animação que povoa a noite e perto da tristeza que
arrasta o dia.
Contaria que ser um belo sobradinho na Lapa tem lá seus
encantos,
Mas que nem tudo é canto,
Porém muito é pranto onde todo mudo acha alegria
E vai embora quando é dia...
Quem sabe até é melhor ele nada dizer,
Pode até acabar com o sonho de uns
Apagar a luz de outros
E segundo alguns, até 'deixar o samba morrer...'
Mas continua de pé observando...
Ah, se suas portas fossem boca,
o que não contaria?
Wendel Bernardes.
Poema cativante!
ResponderExcluirLer seus textos faz parecer tão simples o ato de escrever! Isso por causa da sua suavidade, fluidez e naturalidade ao brincar no jogo de palavras. Talento inegável, parabéns!
Muito grato Alysson!
ResponderExcluir