sábado, 28 de abril de 2012

A Historinha de Aroldinho...

Hoje quero compartilhar com vocês a (não tão) bela história de Aroldo Caramelo. Nasceu pobre no subúrbio de uma metrópole qualquer, numa família de muitos filhos um pouco desestruturada pela estrutura icônica que seguiam como religião.

O pai era homem bruto, machão e duro com tudo e todos. Cuspia marimbondos até quando lhe perguntavam as horas na rua.
-Tá atrasado?... Sai mais cedo! Respondia com sua habitual certeza que o mundo inteiro estava sempre errado, se comparada à sua pessoa!

A mãe era dona de casa simples, carola, beata, cumpridora dos bons costumes e criara os filhos para serem, pelo menos um pouquinho, diferentes do pai. Sempre que podia, às escondidas, adoçava a boca das crianças com um pirulitinho colorido qualquer. Mas que o Deus Protestante nos livre de papai descobrir que andamos adoçando a boca... Cruz, credo, deve ser até pecado!

Um dia Aroldo ainda pequeno, sentiu-se tocado ao ver no céu belo arco íris. Como fazia parte de sua simplicidade herdada de mamãe, logo disse ao seu pai;
-‘Veja papai, que lindas cores o Deus Protestante pôs no céu!
Tomou logo um safanão pra não ficar abestalhado e mulherzinha, afinal arco íris é coisa de frutinha!
O pai nunca conseguiu entender pra que Deus pôs tantas cores no arco íris, num tava bom se fossem apenas cinzas e tons pastéis? Vai ver que coisa tão colorida foi criação do Demo, viu?!

Os anos se passaram e Aroldo Caramelo cresceu.
Seu pai havia morrido fazia pouco tempo. Morreu em casa mesmo, abraçado a um quilo de sal, que era pra fazer jus ao seu temperamento tão bem feito.

Mas a mãe resistiu bravamente, pois tinha o sonho de ver seu preferido Aroldinho virar doutor.
Poderia ser engenheiro, médico, ou coisa assim, mas dessas profissões não deveria abdicar, pois como mamãe iria ficar nos assuntos da vizinhança?
Enquanto falavam do filho da vizinha que está morando na França e manda postais com aquelas tanguinhas sensuais dizendo ser artista.
Meu Aroldinho não vai ficar pra trás, pôs os joelhos no chão e começou a pedir ao seu Deus Protestante que seu Aroldo tivesse a melhor profissão do mundo!

Como se o Deus Protestante tivesse ouvido, Aroldo já não tão doce como antes, chegara em casa com uma idéia fixa na cabeça. Vou ser pastor!
A mãe ficou com os cabelos (enrolados num coque) pro alto!
- Pastor, Aroldinho?  Tem certeza meu filho?
- É obvio mãe, o Deus Protestante falou comigo!

Como aquela senhora poderia questionar os santos-sacros desígnios divinos protestantes? Lembrou logo de suas preces recentes e calou-se.

Aroldinho matriculou-se no melhor curso teológico que a pensãozinha que mamãe recebia poderia pagar, ficou ali alguns anos. Formou-se com louvor, adoração, aleluias e hosanas, mas decidiu fazer doutorado, mestrado, a tantas outras coisas que o cursinho poderia lhe oferecer para focar mais perto da honra de seu chamado.

Aroldinho agora era um homem santo, religioso, cumpridor dos bons costumes como sua mãe, mas tornou-se durão, machão e amargo como seu pai.

Como todo bom pastor protestante seríssimo deveria ser, montou sua igreja baseado nos pilares da moral e dos bons costumes.
Fixou junto ao cartaz da igreja a seguinte frase: “Gayzinhos, lésbicas masculinas e coisinhas do tipo nem precisam entrar; primeiro vão se consertar, depois voltem e dêem o dizimo ao ‘Senhor Deus Protestante’!”
Assim ficou conhecido como o pastor mais duro e fundamentalista da paróquia, digo das redondezas.

Mamãe fica pensando nos motivos que Aroldinho teria para ser pastor.
Então um dia, já bem velhinha e cansadinha da vida religiosa que teve, pediu ao Deus Protestante a verdadeira resposta.
Foi numa noite fria de inverno, com seus ossinhos aquecidos por meias de lã multicoloridas feitas por ela mesma no dia posterior a morte do marido, que o Deus Protestante lhe visitou através de seu anjo com glória, psicodelia e muita luz.

Então o anjo tocou-lhe na testa e fê-la adormecer. No sonho, via seu Aroldinho ainda rapazote preocupado com seu futuro financeiro e com o sucesso que poderia lograr comparando-se ao filho da vizinha de sunguinha na França.

Foi aí que pensou; ‘Bom, como médico apenas ajudarei a curar doenças, aplacar a dor de alguns com terapias medicamentosas, não, isso não é nobre o bastante.
Como engenheiro, construirei arranha-céus, escreverei meu nome nas estrelas, mas meus projetos dependerão da aprovação dos donos da obra...’
Assim pensou com seus botões, que a única profissão que agregaria a nobreza de ajudar aos feridos, com a fama de escrever seu nome nos umbrais da humanidade seria a de pastor de ovelhas protestantes.

 Teve uma ‘epifania’ (que diabos é isso?) e viu seu Deus mostrar-lhe um caminho dourado a seguir, e no fim do caminho disse o Deus Protestante; ‘Aroldinho, crie um blog meu filho, e nele diga tudo o que se passa na sua alma!’

Assim, a mãe de Aroldinho já podia descansar em paz, afinal, o Deus Protestante estava no comando de tudo!

Wendel Bernardes.

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